A princípio, parecia um acampamento de férias, desses dos tempos de escola, quando uma excursão era organizada a um local específico. Lembro bem da sensação divertida por estar em um lugar inusitado, novo, desconhecido.
O ano era 2013. Assim foi a primeira impressão ao chegar ao local indicado e que seria minha morada pelos próximos dez dias. Minha e de outras cem pessoas, entre homens e mulheres. O dia marcado para apresentação à nossa “colônia de férias” foi 23 de janeiro de 2013, às 14 horas. Exatamente quando eu havia completado 40 anos, 2 meses, 12 dias e 14 horas de vida. Depois explico a razão desta exatidão ao chegar ao local onde nos seria ministrado o curso de Meditação Vipassana.
Estávamos todos ali – altos, baixos, gordos, magros, loiros, morenos, vestimentas variadas, patricinhas, bichos grilos – e, lógico, nosso julgamento de valor chegou adiantado e estava a todo vapor! Afinal, nós nos afastaríamos do mundo, mas carregávamos nós mesmos com todas nossas qualidades e defeitos, maledicências, inveja, julgamentos, “pré-conceitos”, primeiras impressões, apatia e antipatia.
Enfim, toda miríade da qual somos formados desde os primeiros anos de vida. Uns chegavam com a prévia informação tirada do “sr. Google”, outros com dados de amigos que já passaram pela experiência. Havia ainda aqueles que demonstravam apreensão após terem lido matéria da Folha de S. Paulo, cuja jornalista preferiu expelir seu “pus” pelas palavras, a partir da ótica do copo meio vazio que escolheu para descrever a experiência que iríamos viver durante os próximos dez dias. Mas, enfim, nada define Vipassana a não ser vivenciá-la por si só essa que eu denomino a cirurgia mais profunda de desapego do ego.
Preenchida uma ficha onde reiterávamos nosso propósito de permanecer ali todo período, seguimos aos quartos coletivos. No meu caso, dividi o espaço com outras duas meninas, uma de 18 e outra de 22 anos, uma das mais jovens dali e essa convivência iria trazer à tona meus “pus” que, a tempo, revelarei como foram expelidos em forma de pensamento comigo mesma. Depois das instruções dos coordenadores, tivemos um jantar leve com sopa e fomos meditar. Aí começava o que depois se revelaria não se tratar de uma colônia de férias, um spa ou algo do tipo que tínhamos em nosso imaginário.
Coluna vertebral posta à prova
Na primeira noite, já tivemos uma hora de meditação onde nossa coluna vertebral foi iniciada na técnica. E nos próximos dias, ela seria colocada à prova progressivamente, o que se revelou ser uma bênção. Melhorar na técnica significou, para mim, me tornar mais forte como ser humano, enfrentar desafios com paz e sem revolta. Sem apego nem aversão. Esse é o ensinamento que repete por três vezes o mestre Goenka, homem de negócios cercado com tudo que o mundo podia comprar antes de se dedicar à Meditação Vipassana. No entanto, ele também provou que a felicidade não estava à venda. E foi pela dor que ele experimentou, à la São Tomé, a técnica de Meditação Vipassana que fez sumir a enxaqueca dominada por morfina, mudou sua vida e a de milhares de pessoas de lá até agora, inclusive a minha. Confira o discurso do mestre S.N.Goenka na Organização das Nações Unidas (ONU) e conheça mais sobre esse que é um líder espiritual sem se autodenominar sê-lo. Atualmente, mestre Goenka já faleceu, mas na mesma época do nosso curso em 2013 era ainda vivo e estava ensinando alunos em um curso de 90 dias. U-A-U. Dez dias, pensei, não devem ser tão difíceis. Deixei tudo certo no trabalho, paguei todas as contas que iriam vencer no final do mês, deixei em casa cara-metade das mais aflitas pelo meu bem-estar e avisei todo mundo.
O Universo provou existência ao tocar meus pés
No segundo dia, o Universo falou comigo e tive a prova que nem São Tomé nos seus melhores dias iria imaginar obter. Estava deitada num dos bancos do Retiro do Mossunguê, em Curitiba, local do curso. É importante ressaltar que, embora fizéssemos o retiro num local católico, o ensinamento de Vipassana acolhe todas as religiões e você não deixa de ser um católico ao praticar Vipassana. Você se torna um católico que pratica Vipassana. Só isso. Mas vamos voltar ao dia em que o Universo falou comigo. Com os pés descalços, algo chamou minha atenção nos pés e, de olhos fechados, chacoalhei para que o “incômodo” me deixasse em paz. Não adiantou. Novamente o “incômodo” voltou a me fazer cócegas nos pés e, se não bastasse, no vão entre os meus dedos dos pés, a explorar meu chulé a fundo, com muita curiosidade e com todo foco possível. Fui olhar. Era uma abelha toda íntima com os dedos dos meus pés. E ficou ali pelo que imagino uns 20 minutos (a gente perde a noção do tempo!). Momento revelador e que me deu a resposta que esperava: “É, Ana Paula, esses dez dias serão um divisor de águas para tua vida, que já passou por várias religiões e nenhuma espiritualidade. E foi esse o pedido que você fez a mim, Universo. Lembro que você falou comigo sentindo falta de espiritualidade, desse contato íntimo com o que chama de Deus, Oxalá ou outro nome qualquer”.
Dez dias de nobre silêncio: só sua mente tagarelando com você e estava ali, maravilhada e cheia de apego por aquela situação inusitada, com vontade de contar a todos ao redor. Mas o “nobre silêncio” me impedia, porque uma das regras no curso é não falar com ninguém nem dirigir olhares ou fazer gestos por dez dias. Mesmo sendo jornalista, não me incomodou o fato de não falar com ninguém, mas não levar caneta e papel me deixou agoniada no começo, mas a memória que vive, experimenta, faz imersão e mergulho profundo para dentro de nós mesmos não esquece lições. E olha que foram várias vividas nesse período. Afinal, travar diálogo somente com você traz à tona o que você é de fato. Sem máscaras, sem disfarces. É a realidade como ela se apresenta, sem maquiagem, sem barba feita, sem perfumes ou adereços.
Silêncio e o diálogo interno que insiste em não se calar a verdade nua e crua de quem somos emerge nas pequenas coisas, como esperar a vez de lavar sua louça. Eu pensava: “Que menina demorada, fica olhando para a louça ao invés de lavá-la. Não consegue perceber que tem outras pessoas atrás?”. Pura maledicência. Ou na hora de tomar banho e constatar que a colega deixou longas madeixas no ralo sem juntar e jogar fora. Para resolver a situação que me deixou incomodada, tentei fazer gestos e fui flagrada pela gerente Silvia, que me deu um merecido pito. Dali em diante, minha intolerância se curvou e esqueci das inúmeras vezes que passei a juntar os cabelos das colegas – silenciosamente e com resignação, sem mais nojo, mas compreendendo o “cair das fichas”. Lições, lições, lições. Até a repetição de três vezes seguidas das palavras do mestre Goenka chegaram a me irritar em certa altura e a brigar com ele mentalmente e aqui peço desculpas ao senhor, Goenka, mas imagino que entenda essas pegadinhas que são próprias da mente no padrão antigo. “Por que você repete tanto?”, “Pare de falar três vezes a mesma coisa. Já entendi da primeira vez que você falou equanimidade, sem falar que há tradução. Então eu ouvi 6 vezes a mesma coisa. Pareeeeee!”. Assim gritava minha mente a mim mesma. Pura ansiedade, ansiedade, ansiedade…
A vez do corpo gritar
Além disso, o corpo gritava, urrava… Até o quarto dia, eu parecia um saco de batatas que não parava reto – dor latejante e que me fez derrubar por terra o primeiro preconceito que tinha de que meditação era algo simples. Ao contrário. É para fortes, não é algo fácil como eu imaginava, é para quem está disposto a ficar até três horas imóvel, superando suas dores lancinantes, apenas observando-as e seguindo adiante. Sem aversão nem apego. Era fácil o Goenka falar isso, mas praticar era a missão. Nessa hora, muitos pensamentos de derrota vinham à mente, assim como pena por mim mesma, autopiedade egoísta e destrutiva. Havia momentos em que eu ficava olhando para aquela dor e ela me hipnotizava como uma cobra naja. Ela simplesmente não me deixava abandoná-la. Era egoísta, egocêntrica, como se precisasse daquela atenção. E meu corpo pediu atenção numa passagem que hoje eu rio demais e compartilho para você também dar boas risadas. Estava meditando tentando manter o corpo imóvel, sentindo a dor e praticando “anicca, anicca, anicca” (para quem não vivenciou o curso, anicca / lê-se anitcha / é um termo em pále, língua antiga da Índia, que significa impermanência, ou seja, que tudo muda constantemente).
A exposição da vitimização para mim mesma
Foi então que um enjoo tomou conta da minha mente e não conseguia fazer outra coisa a não ser ficar empacada naquela sensação. Nada mais de ir do topo da cabeça até os pés. Era um enjoo e uma tontura que me levaram cambaleando para fora da sala de meditação. Ao passar pela porta, deixei-me cair no chão, numa cena de novela mexicana, implorando ajuda, atenção, pena, solidariedade, qualquer coisa. Ao passar alguns segundos, como uma criança que faz a cena para ganhar atenção, olhei ao redor e não havia nem uma só alma ali. Apenas eu comigo mesma. Nem a gerente estava por perto (ainda bem, seria um mico danado hein !)… Levantei e fui sentar na grama.
Foi aí que o Universo enviou a emissária Silvia, a gerente, para falar comigo e foi muito amável, mas me deu um recado. “Não é só você que tem essas sensações. Todos estão no mesmo barco e tendo suas próprias sensações, suas dores”. Outra ficha caiu.
A gente sempre acha que nossa dor é a MAIOR do mundo, maior que a sua que está lendo, a do seu colega de quarto. Todos nós somos iguais, passamos pelas mesmas dificuldades e não temos o direito de fazer aquela cena da queda que eu fiz, sentindo pena por nós mesmos. Isso me levou a refletir muito sobre nossa força e veio uma frase atribuída a Madre Paulina que diz: “Quando penso que não posso mais, experimento para ver se posso mais um pouco”. E fui insistindo nas minhas dores e também nas sensações gostosas que experimentava pelo corpo.
Para quem não vivenciou a experiência, explico: na Meditação Vipassana, o aluno é levado a prestar atenção na respiração que entra e sai. Simplesmente isso. Sem visualizações, mantras ou qualquer outro artifício para se concentrar. Apenas somos estimulados a sentir a respiração que entra e sai pelas narinas. Tomar consciência da nossa respiração. Depois de uns três dias, já somos aptos a apurar essa atenção para a parte localizada abaixo das narinas e acima do lábio superior, naquele “racho” que fica ali no meio e dá formato aos lábios. No começo, confesso, fazia um bico à la Pato Donald para sentir o ar passando ali, mas com o tempo você se concentra a tal ponto que a mente sente o ar saindo quente e entrando com frescor pelas narinas.
Esse foco é essencial para a próxima etapa, que se daria lá pelo sexto e sétimo dias. É quando Goenka diz que a gente vai começar a sentir nossas sensações por todo corpo. E assim foi. Começamos a nos concentrar no topo da cabeça até o dedinho dos pés, percorrendo, segundo a segundo, todas as partes do nosso corpo.
Inicialmente, não consegui sentir tudo de uma só vez, mas paulatinamente você sente seu couro cabeludo palpitar, sua mandíbula tremer, seu ouvido coçar, sua face ao redor dos olhos vibrar como se tivesse sendo massageada por alguém. Nem imaginava que essas sensações estavam ali, ao alcance da nossa mente concentrada. Dali, a aventura interna continua até a garganta, onde tinha um verdadeiro sapo atravessado, como se eu tivesse engolido um pedaço de comida inteiro e tivesse ficado preso ali. Já na região do abdômen, consegui sentir o pâncreas com muita dor, enquanto a virilha era o meu ponto nevrálgico.
Como estava na atitude de vítima, senti muita pena de mim e pela situação da minha virilha (coitadinha dela, de mim!). Sinto dizer, mestre Goenka, mas apelei ao imaginário e permaneci imóvel pensando estar ao lado de Jesus na cruz (olha a pira da pessoa !). Mas isso me ajudou a superar a dor na virilha, que parecia levar pregos como Jesus nos pés e nas mãos. Assim, eu conseguia seguir imóvel por uma, duas horas…
O encontro entre mente-matéria é o eixo principal das nossas dores
Sem contar a dor em um ponto das costas, que já havia me queixado com minha massagista, porque pensei ter dormido de mal jeito. Era nada. Tratava-se de dor mente-matéria, ou seja, transmiti à matéria a indignação que passei a acumular nos últimos meses e que chegou à superfície como dor nas costas, perto das “asas”, sabe onde é? Parecia até tolher meus movimentos. Fui na academia e o professor Gilmar chegou a me ajudar em alguns alongamentos. E nada de passar. Durante as horas da Meditação Vipassana, a dor passou e gritei um “UHUUUUU” para mim mesma. Mas retornou ainda mais forte. Quando novamente passou, entendi a mensagem de Goenka e minha mente observou com um “uhu” mais equânime!
A “santa” e seu caldeirão em ebulição
Sem mencionar nos primeiros três dias da técnica, quando senti muito calor sair pelos poros. Parecia que eu era personagem de desenho animado quando o Frajola coloca o Piu-Piu num caldeirão (quem é mais velho vai saber do que falo). Era puro fogo saindo do meu corpo. Suor nas mãos e pés. Eram 4h30 da manhã e eu com blusa curta e sem meias, tamanho o calor. Naquele momento, ainda ignorante do que estava acontecendo comigo, associei a sensação de calor a um atributo positivo, cujo sinônimo só podia ser coisa boa. Pensei comigo: “Sou uma pessoa boa. Logo, esse calor só indica isso”. Olha como desenhamos uma imagem distorcida de quem somos para nós mesmos. Que dirá para as outras pessoas!
Durante a palestra de Goenka naquela noite, a surpresa. Ele me revelaria que aquele calor todo que senti era, na verdade, raiva, ressentimento! “O quê?”, perguntei mentalmente a ele. Minha máscara de Madre Tereza de Calcutá que usava para mim e para os outros caiu. Sou uma pessoa que guarda muita raiva e sabe-se lá há quanto tempo… Analisei e percebi os momentos – grandes e ínfimos – de raiva, de queixas, de indignação, de inveja, de calúnia…
Tudo o que a “santa” aqui havia acumulado para ninguém mais do que para mim mesma. Mais tarde, fui saber que outras pessoas também tiveram “sintomas” parecidos e outras não. A experiência é única para cada pessoa, porque somos seres únicos neste Universo, com nossa própria história de vida. Afinal, cada um carrega sua própria cruz. Somos cegos tentando descobrir o mundo com o tato desorientado, pouco desenvolvido até tomar um banho de água fria (deliciosa pós-Vipassana) em nosso ego.
A tempestade e a bonança como integrantes da vida
Quem faz essa travessia e leva junto seu medo, insegurança, egoísmo ou, no meu caso, ansiedade, raiva, apego pelo afeto, chega à outra margem fortalecido. Passado o período de dez dias, a gente olha para trás e se sente “empoderado”, mas não volta santo para casa. É aqui, nas relações consigo mesmo, dando muito amor e compreensão a si mesmo, que passamos a tratar os outros como gostaríamos de ser tratados. Passamos a entender na prática o que Jesus falava e parecia aramaico para mim até essa vivência: Amar ao próximo como a si mesmo. Mesmo não nos tornando santos, passamos a ter uma nova visão do mundo, do nosso mundo interior, e daquele ao nosso redor. No trabalho, os problemas estavam ali me esperando.
Quem imagina que os obstáculos vão desaparecer como toque de mágica não entendeu Meditação Vipassana como se deve. No segundo dia do meu trabalho, recebi um e-mail de um cliente. Ele descascava a lenha, porque eu teria “passado” por cima da sua autoridade e enviado o artigo de opinião para correção do porta-voz quando deve ser passado primeiro ao Marketing. Ao responder, refleti antes de que maneira minhas palavras poderiam reverberar de forma a explicar minha falha (eu havia deletado da mente esse procedimento-padrão) e foi o que fiz de maneira a não me irritar como antigamente. Apenas resolvi o problema de forma equânime na prática.
Passei também a olhar as pessoas no olho. Antes, quando falava com as pessoas, em especial com minha colega Camila, e meu olhar ficava parado, olhando mas não vendo, entende?! Agora, não só meu olho se dirige às colegas do trabalho, mas também meu corpo. Eu me viro para prestar totalmente a atenção, momento a momento. E, por falar em momento, o tempo agora corre a meu favor literalmente. Meu foco é tamanho no trabalho que o tempo parece render mais, dou prioridade às tarefas por vez, sem atropelar tarefas e me perder em meio a tantas coisas que preciso cumprir.
Além disso, consigo reconhecer, por meio das minhas sensações, como estou naquele momento: ansiosa, insegura, medrosa, raivosa, triste, frustrada, decepcionada. Não é por que tivemos contato com a técnica que esses sentimentos vão desaparecer de uma hora para a outra. É um treino, que optei por levar a sério e levantar mais cedo e colocar em prática às 5h da manhã. Com as informações em mãos, consigo acionar a técnica, respirar, me acalmar e, principalmente, parar o tagarela interno chamado mente, que não se cansa de falar conosco.
A Meditação Vipassana é o “cala-boca” carinhoso na nossa mente, sempre a pensar, mas nunca a reconhecer como estamos. Hoje, consigo identificar quando começo a me alterar e providencio o remédio.
No momento em que minha mente se dispersa para “pré-ocupações”, pensamentos sobre o dia de amanhã, as coisas que preciso providenciar, enfim, todas essas coisas que saturam nosso presente, eu lhe chamo a atenção e mando um recado: “Ana Paula, viva o momento presente, o hoje, preste atenção ao que você está fazendo agora. Deixe isso de lado. O que vale é o momento atual, o banho que você está tomando, o sentir a bucha tocar seu corpo, a água tocando a face, enfim, viva o agora”. Dessa maneira, minha mente não é mais o macaco pulando de galho em galho. Agora me assemelho ao meu sobrenome, a árvore Carvalho, que observa as estações, presencia a mudança dos galhos, sente o sopro do vento e até aguarda as tempestades com a sabedoria que, depois dela, vem a bonança.
E, como fiz questão de pontuar a data que cheguei ao curso, o dia 23 de janeiro, 40 anos, 2 meses, 12 dias e 14 horas de vida, tenho real noção de que minha vida até ali foi uma. E que começo uma nova caminhada a partir de agora. Ciente de anicca, anicca, anicca. Sadhu, Sadhu, Sadhu.
Fonte: Publicado originalmente pela mesma autora em Vidaplena