Ela veio em minha direção. Em meio à multidão, ela me encontrou.
Trazia um sorriso claro, tranquilo, desses que a gente quer continuar encarando.
Vinha com passos firmes, mas sem afobação ou ansiedade.
Aliás, sua respiração era silenciosa, lenta e ampla como uma gaita de fole que se enche de ar.
Não trazia nada nas mãos porque é despojada de materialidade. Trazia o recado astral, desse tipo de mensagem que não se encontra no mundo material.
Sua face é desafiadora para descrever, porque é mais fácil sentir o seu semblante repousando sobre o meu. Traz ternura, candura, doçura e todas essas virtudes escassas no mundo de quem pouco se detém na face do outro.
Sua voz era suave, quase um cochicho. Em meio a buzinas, sons dos escapamentos e barulhos das ruas, foi desafiador perceber sua voz, mas ela vem no silêncio que se faz no intervalo entre os ecos criados pela nossa barulhenta mente.
Que possamos sempre notá-la. Afinal, a paz vem do nosso interior e se mantém conosco conforme ampliamos a sua morada no coração.
Texto: Ana Carvalho