por Tatiana Rudinger – Colunista
Sou peregrina da vida… Desde pequena, mudei diversas vezes de cidade, país, feito cigana. Aprendi a me reinventar a cada mudança, e assim passei a desfrutar ainda mais de cada ciclo em minha vida.
Sempre fui muito conectada à natureza, curiosa, questionadora e buscadora. O autoconhecimento e a espiritualidade me fascinavam desde os tempos de escola. A arte e o teatro tiveram grande importância no meu desabrochar na adolescência, quando nos mudamos de Curitiba para São Paulo.
Um dos eventos marcantes em minha vida foi o intercâmbio do Rotary na Austrália aos 17 anos. Pela primeira vez, deixei o país e minha família, e me lancei para uma aventura do outro lado do mundo, em uma ilha pendurada no mapa-múndi: Tasmânia.
Foi uma experiência desafiadora, em um tempo em que era preciso aguardar 30 dias por uma carta, e a ligação telefônica custava um rim (ou dois). Brincadeiras à parte, aprendi a conviver com a saudade, palavra nossa que não tem tradução.
Na terra dos aborígenes, passei a enxergar o mundo com outros olhos, viajei por desertos e praias paradisíacas, subi montanhas cobertas de neve, convivi pacificamente com cangurus e coalas, e aprendi sobre a cultura de diversos países com outros intercambistas.
Ao retornar para Curitiba, cursei Comunicação na UFPR, e foi então que mergulhei em minha busca pela espiritualidade. Hippie, bruxa, louca… Muitos foram os rótulos recebidos desde então. Uma professora querida (e já falecida) me presenteou com meu primeiro mapa astral e, desde então, a Astrologia passou a fazer parte dessa minha jornada.
Lembro bem que ela disse que eu faria uma viagem para o exterior por uns 6 meses, e que não seria para estudar ou trabalhar. Pensei: “Impossível!”.
Depois de me formar, meus pais se separaram de forma súbita e dolorosa, eu não suportava o clima de guerra em casa, então topei o desafio de acompanhar uma grande amiga em um mochilão pela Ásia.
Na época eu dava aulas de inglês e estava noiva, mas joguei tudo pro alto. Busquei a paz que me faltava em todos os países e templos por onde passei: Índia, Nepal, Tailândia, Malásia, Cingapura, Indonésia.
Eu buscava a espiritualidade fora, porque ainda não entendia que estava dentro. A coragem de viajar com uma amiga por países tão machistas não me causava medo à época, mas hoje tenho noção do real perigo que corremos.
Viajamos de ônibus e de trem, deitadas no chão do vagão com os pés dos indianos na nossa cara, depois de aguardarmos por mais de 10 horas por um trem que nunca chegava e sermos informadas que embarcaríamos em outro, sem assentos, apesar de termos comprado vagões com camas. A viagem foi longa!
Essa foi uma das viagens mais marcantes da minha vida. Foi como entrar na máquina do tempo e sair em outra época, em outra dimensão.
A Índia me impressionou pelo número de pessoas na rua o tempo todo, como se fosse uma multidão que tivesse acabado de sair de um estádio de futebol. Taj Mahal, Rio Ganges, palácios do Rajastão…
Foram dois meses explorando toda a magia deste país. Mas em busca da espiritualidade, foi a Tailândia que mais se aproximou daquele ideal de templos com imagens de Buda em ouro, esmeralda, em pé, sentado, deitado, com 30 metros… Impressionante! Os rituais também eram belíssimos, com flores, incensos, danças, cores, aromas, sons… Parecia um sonho!
Depois de 5 meses peregrinando, voltei para Curitiba, estudei Hotelaria e logo me mudei para o Rio de Janeiro, onde mais uma vez me permiti sentir borboletas no estômago ao realizar o sonho de interpretar um número do “Fantasma da Ópera” em um resort onde trabalhei por 2 anos.
Tive a oportunidade de assistir a este musical pela primeira vez na Austrália e me apaixonei. Tanto que assisti mais 7 vezes em outros países. Neste resort eu tinha contato com a natureza, e a combinação de mar com a Mata Atlântica oferecia muitos presentes, como banhos de cachoeira e a visita de bichos-preguiça.
As amizades que fiz lá me acompanham até hoje, como uma família.
Como boa cigana que sou, fui morar na França e, trabalhando como babá, tive a oportunidade de conhecer lugares incríveis, em especial o Marrocos, que tem aquela característica de viagem no tempo. Lá passei por uma situação que poderia ter acabado muito mal, mas minha intuição me salvou, e passei a ficar mais atenta aos sinais.
De volta ao Brasil, resolvi morar em Salvador. História antiga, minha mãe conta que quando eu era pequena, lendo “Capitães de Areia”, de Jorge Amado, virei para ela e disse: “Mamãe, vou morar na Bahia”. E lá fui eu.
Mochila nas costas, parti de Curitiba até o Rio Grande do Sul, e depois fui subindo, por 3 meses, até chegar ao meu destino. Qual o objetivo desta viagem? Queria me certificar de que era lá mesmo que eu queria morar.
E morei em Salvador por 5 felizes anos! Tudo fluiu: casa, emprego, amizades… Fiz uma pós em Gestão de Pessoas e descobri minha paixão por gente! Eu levava uma vida simples, de vestido e rasteirinha, comendo acarajé, bebendo água de coco, indo à praia e dançando forró. Eu era feliz e sabia!
No entanto, a carreira na hotelaria falou mais alto, e lancei mão da simplicidade e do contato com a natureza para desfrutar do sucesso e do glamour em São Paulo. Foi uma mudança drástica de estilo de vida!
Em Salvador eu morava em um condomínio, cercada de amigas, que mais parecia uma comunidade alternativa: professoras de yoga, vegetarianas, que meditavam… Na selva de pedra, minha vida entrou no piloto-automático: casa – trabalho – casa.
Nos fins de semana eu queria praia e acarajé. Crise de abstinência. Faltava dendê no sangue. Vivia na ponte aérea. Visitava Salvador pelo menos 4 vezes por ano. Algo estava fora do lugar. Alerta!
Nessa busca incessante pela espiritualidade, visitei o Egito com um grupo de práticas holísticas e, ao entrar na Pirâmide de Gisé, desabei em prantos. Que energia tem aquele lugar! Será que fui Cleópatra?
Neste mesmo ano, recebi um prêmio de melhor gerente de RH de hotel no Brasil. A partir daí, comecei a fazer o caminho de volta… De volta para casa, de volta para minha essência.
Por um lado, eu tinha status, dinheiro, viagens internacionais (conheci mais de 30 países), mas por outro sentia que já não era mais eu mesma. Comecei a fazer terapia, meditação, PNL, Coaching e um curso de Psicologia Transpessoal na Unipaz. As portas se abriram. Não parei mais. Constelação familiar, Thetahealing, reiki xamânico, tarô, búzios, sagrado feminino, Astrologia… Tudo me chamava. Participei de um seminário com o autor do livro “O Monge e o Executivo”, que me inspirou muito.
Minha vida pessoal não ia nada bem. Quebrei o pé acidentalmente após romper um relacionamento. Quando a gente não ouve os sinais do corpo, a vida nos mostra quem está no comando. E isso me fez parar por 3 meses.
Para uma ariana ligada em 440 volts como eu, parar foi extremamente desafiador, porém necessário. Pude olhar para dentro, me conectar com minha alma e ouvir a voz do meu coração. Ali começou a mudança que me trouxe de volta para casa, para minha essência, 10 anos depois.
Como uma borboleta no casulo, passei por um longo processo de transformação, que envolveu me desapegar de quase tudo, vender e doar minhas coisas, deixar a vida louca que eu levava em São Paulo e o cargo executivo em um hotel de luxo para ser feliz na Bahia.
Toda mudança exige coragem, e isso eu tenho de sobra. Acompanhei a luta pela vida de um amigo de faculdade hospitalizado com câncer em estado terminal e esse foi o impulso que faltava para a mudança de hábitos, em busca de qualidade de vida. Fui a um nutricionista que me orientou como parar de comer carne, passei a praticar atividade física, e meu banho de sol diário para produzir vitamina D se tornou sagrado.
Ao chegar em Salvador, fiz questão de morar de frente para o mar, que embala meus dias e minhas noites ao som das ondas de Iemanjá. Sim, porque moro no Rio Vermelho, bairro onde acontece a festa dela todo dia 2 de fevereiro. É minha festa preferida!
Neste bairro boêmio viviam Jorge Amado e sua amada, Zélia Gattai. E ainda sou contemplada com 3 baianas de acarajé maravilhosas! Eu costumo dizer que não voltei pra Salvador, voltei para o Rio Vermelho, mesmo bairro onde havia morado antes… Nada acontece por acaso!
Nesta nova fase, passei a cuidar de mim, da minha alimentação, da minha saúde física e mental. Estava plena, feliz! Participei de um concurso internacional para dar a volta ao mundo e, ao me lançar para a vida em busca de votos, o amor bateu à minha porta.
Deixei o amor entrar, e hoje estou casada com um baiano que fala “Oxente”. Amo! Apesar de ter ficado entre as finalistas no Brasil, não ganhei o concurso, mas ganhei um amor!
Segui minha jornada fazendo terapia, meditação, yoga, me conectando com a natureza, anotando meus sonhos, viajando pra Chapada Diamantina…
Ano passado, atendi ao chamado de fazer uma formação em Yoga Massagem Ayurvedica e passar 1 mês na produção de eventos holísticos em Arembepe, praia próxima a Salvador.
Fiquei imersa com um grupo de pessoas fantásticas de várias partes do Brasil e da Argentina. O mais impressionante é que, ao chegar lá, fui surpreendida por uma revelação: eu havia sonhado com aquele lugar, a casa, a praia, o evento e, o mais importante, as tartarugas marinhas. Podia acompanhar a desova algumas noites e o nascimento pela manhã… Um espetáculo da natureza!
Com tantos ciclos, me descobri humana e imperfeita. Aceitei que sou feita de luz e sombra. O autoconhecimento é uma jornada que nunca acaba enquanto estivermos aqui. Não existe um único caminho, certo ou errado.
É preciso se conectar com sua alma, honrar sua ancestralidade e ouvir sua voz interior. Cada experiencia é única. Aproveite essa fase de isolamento social e faça este exercício.
O que você está ouvindo? Meus próximos passos estão aguardando tudo isso passar, para que eu possa costurar novos saberes no meu bordado da vida. Sou uma eterna buscadora, aprendiz, peregrina, ao encontro da espiritualidade, ao encontro da minha verdade.
Tatiana Rudinger é comunicóloga e hoteleira com pós-graduação em Gestão de Pessoas e Psicologia Transpessoal. Baiana de coração, apaixonada por gente, procura ser a mudança que deseja ver no mundo.
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